data-filename="retriever" style="width: 100%;">No início dos anos 60 (1961), o panorama dos morros da nossa cidade mostrava roças de milho e feijão subindo as ladeiras desmatadas, até trigo se plantou (Lar Metodista). Grandes escaras produzidas por pedreiras: a do morro do Chechela; a do Link, no morro do Parque Natural (Atirador Esportivo); a da universidade, na face sul do Morro do Elefante, e o grande corte da pedreira da VFRGS que destruiu quase a metade do morro do Parque e forneceu pedras para a construção de boa parte das ferrovias do Rio Grande do Sul. Essa enorme pedreira começou a ser escavada nos finais do século 19 e só foi desativada quase um século depois. Na parte mais escarpada do morro do Parque, havia uma casinha onde morava um eremita (a famosa "casinha branca"). Essa era a face norte da cidade, visão direta da nossa moldura urbana.
Por iniciativa da Câmara de Vereadores de então, foram elaboradas leis que proibiram o desmatamento, a exploração de pedreiras nas faces dos morros voltados para a cidade e, principalmente, a urbanização com construção de casas nas ladeiras com mais de 45 graus de inclinação. A Vila Bilíbio, que recém se instalava, foi sustada em seu prosseguimento. Tudo isso foi incorporado no primeiro Plano Diretor, aprovado em 1967. Graças a essa visão antecipada de nossos vereadores, hoje podemos desfrutar de uma visão civilizada de nossos morros. Todas essas lesões da natureza foram desaparecendo com os anos. A mata original vem, aos poucos, escondendo essas agressões e, graças a essas providências tomadas a tempo, hoje estamos livres de catástrofes como a que aconteceu em Petrópolis.
Os grandes desastres, tanto os naturais quanto aqueles provocados pela nossa ignorância, deveriam servir de lições a serem aprendidas, buscadas soluções elaboradas pelo bom senso e preocupação humanitária, de modo a que nunca mais se repetissem. Infelizmente, não é o que acontece. Tragédias como a da Boate Kiss já haviam acontecido antes e, mesmo agora, tomamos conhecimento do incêndio em um "resort", no interior de São Paulo, durante a apresentação de uma banda. Os deslizamentos de terra nas encostas de morros que tiveram suas matas devastadas e substituídas por moradias improvisadas e imprevidentes, são tragédias que se repetem como se fossem fenômenos naturais. Os homens não aprendem e o poder público não toma providências. Se os homens agem premidos pela necessidade de um teto e pelos transportes urbanos precários, a gestão pública já teria de ter adotado um regramento eficiente, que impedisse a leniência dos municípios e estabelecesse disposições normativas de caráter nacional.
As favelas que se empoleiram nos morros são um fenômeno socioeconômico decorrente da incúria dos governos que não estudam e não providenciam as soluções que se impõem. Na África do Sul, mais precisamente na Cidade do Cabo, com topografia mais acidentada do que a de Petrópolis, a cidade foi instalada nos planos e ladeiras pouco inclinadas, fazendo a prevenção de calamidades e dando uma solução humanizada para esse problema. O engenho do homem e a sabedoria acumulada pelos nossos urbanistas e arquitetos, deveriam anteceder aos problemas criados com o surgimento de megalópoles.
Um grupo de arquitetos e urbanistas franceses, há alguns anos, apresentou um trabalho em que propunham que as cidades não deveriam ultrapassar os 40 mil habitantes. Daí para a frente, os problemas se acumulam e as soluções ficam ainda mais difíceis.